Encontro de projetos de incentivo à leitura e bibliotecas comunitárias no Centro de Artes Guido Viaro, Curitiba/PR

14.9.13


O evento Te encontro no Guido reuniu representantes de iniciativas de incentivo à leitura e bibliotecas comunitárias na noite de sexta-feira, 13/09/2013 no Centro de Artes Guido Viaro. Todos os participantes puderem falar sobre seus projetos e realizações e também contar os motivos que os levaram ao mundo da leitura. Fabiana Medeiros e Priscila Angélica Sehnem aproveitaram o evento que acontece mensalmente, para apresentar o projeto Corrente da Leitura que será realizado na instituição. O evento Te encontro no Guido terá mais duas edições voltadas à literatura nesse ano, uma será dedicada aos projetos de incentivo à leitura que acontecem dentro das escolas em Curitiba, e a outra será dedicada aos autores e ilustradores de livros infantis. Nesse encontro além da conversa entre representantes dos projetos e bibliotecas comunitárias, também teve música e contação de histórias.



Corrente da Leitura

O objetivo da Corrente da Leitura é trazer livros para dentro do Centro de Artes Guido Viaro e facilitar o acesso a leitura para os professores, alunos, funcionários e frequentadores do local. A Corrente da Leitura trata-se de uma simpática caixa de madeira com algumas prateleiras dentro, onde vários livros podem ser encontrados e emprestados. Alguns cursos realizado no centro de artes tem duração de 4 semanas, então a proposta é que os alunos e professores emprestem os livros e devolvam ao final do curso.

Carrinho da Leitura



Luiza Verônica Piccoli, moradora da Vila Izabel é responsável pelo Carrinho da Leitura. Ela começou sua fala com uma frase forte “eu acredito que o livro salva vidas”. Ela contou que sempre teve a casa cheia de livros e também tinha muito ciúmes deles. Mas depois, com o passar do tempo, a casa ficou tão cheia de livros que ela decidiu que era hora de fazer algo com eles, percebeu também que o conhecimento só seria passado adiante se os livros circulassem. Luiza alimentava o sonho de ter uma biblioteca comunitária, mas para isso precisaria de um local e de dinheiro para bancar as despesas de um espaço alugado. Ela conversou com o síndico do prédio na tentativa de contagiá-lo em montar uma biblioteca no condomínio, porém a ideia não foi adiante.  

Sem a possibilidade de montar uma biblioteca no prédio, ela pensou que precisaria de um carrinho para levar os livros até os leitores, como uma biblioteca itinerante. Ela procurou uma loja para comprar um carrinho de mercado, mas não encontrou, então foi em um mercado próximo de sua casa informar-se sobre onde poderia adquirir um, mas a gerente do mercado gostou tanto da ideia que acabou doando um carrinho para Luiza. Assim nasceu o “Carrinho da Leitura”. O projeto que existe há 6 meses funciona da seguinte maneira: Luiza leva o carrinho em um local determinado e deixa estacionado durante um mês. As pessoas têm esse tempo para emprestar os livros, fazer a leitura e então devolvê-los. Uma quitanda na Vila Izabel foi o local onde o carrinho fez mais sucesso. 

A ideia agora é ter uma frota de carrinhos ou um veículo onde ela possa levar a biblioteca itinerante para outros bairros de Curitiba. Luiza tem um filho especial e é por ele que ela se reinventa e se inspira em ajudar o próximo. Ela também pretende levar o Carrinho da Leitura para as escolas e fazer uma sensibilização em prol da leitura junto aos alunos. A primeira vez que o carrinho saiu da Vila Izabel foi para ser apresentado no evento “Te encontro no Guido”, como um dos projetos de incentivo à leitura da cidade de Curitiba. Durante a fala de Luiza, a mãe da Kauanna Batista Ferreira (representante da Biblioteca Comunitária da Vila Torres) que é comerciante, ofereceu um carrinho de mercado como doação. Luiza ficou emocionada com o gesto pois terá a oportunidade de ampliar seu projeto. O Carrinho da Leitura ficará no Centro de Artes Guido Viaro durante uma semana, para empréstimo de livros aos professores, alunos, funcionários e visitantes. O projeto também recebe doações para ampliar seu acervo. O empréstimo é feito de maneira facilitada, o leitor só precisa anotar o nome em um caderno e assinar.

Alexandra Barcellos 



Alexandra é autora de livros infanto juvenis. Ela é de Foz do Iguaçu, formada em Letras, com pós-graduação em cultura afro-brasileira e cultura indígena. Sua história com os livros começou na infância com os clássicos contos de fadas e fábulas, como Os Três Porquinhos e Chapeuzinho Vermelho. Quando ela tinha entre 9 e 10 anos de idade, seu pai comprou uma coleção do Monteiro Lobato e estes livros se tornaram marcantes em sua infância. A mãe de sua melhor amiga trabalhava em uma biblioteca e ela passou a ter acesso a vários tipos de livros. Alexandra falou sobre seus livros e sobre como as histórias enfatizam as belezas paranaenses e despertam as crianças para conhecerem o meio ambiente, as maravilhas da natureza, o ciclo da água, e como a energia elétrica chega até as nossas casas, tudo explicado de uma forma bem educativa para os leitores mirins entenderem bem. O foco de seus livros é a educação ambiental para crianças. Os livros apresentados foram: Guaçatunga - Filha da Mata Atlântica, O Encontro na Mata dos Macacos, Faro e Toca - Os Quatis das Cataratas do Iguaçu e O Ciclo da Água. A Alexandra costuma colaborar com bibliotecas comunitárias fazendo doações de seus livros.

Biblioteca Comunitária Vila das Torres



Kauanna Batista Ferreira e sua mãe Val Batista estavam no evento representando a Biblioteca Comunitária Vila das Torres. Kauanna estuda jornalismo e junto com sua família está envolvida no desenvolvimento da biblioteca desde 2009. A família de Kauanna mora na Vila Torres há 40 anos. Os catadores ambientais encontravam muitos livros em suas coletas que passavam pelo seguinte procedimento: as capas eram arrancadas e o miolo era vendido por R$ 0,03 centavos o quilo para a reciclagem. A família de Kauanna e seus amigos da Vila Torres começaram a pensar que poderiam recolher todos aqueles livros e dar um destino mais digno para eles, então decidiram montar uma biblioteca comunitária. 

Da noite para o dia tudo mudou, não foi nada planejado. Um espaço que servia de depósito de ferro velho foi alugado e reformado por 2 anos pelo pai de Kauanna. Através de um patrocinador, eles conseguiram o pagamento do aluguel. As demais despesas saiam diretamente do bolso dos envolvidos na montagem da biblioteca que precisou ser pintada, ganhou móveis e também recebeu prateleiras. Segundo Kauanna, a Biblioteca Comunitária Vila das Torres promove o resgate da cultura dentro da comunidade. Após conseguirem o local para montar a biblioteca e com os livros já arrumados nas prateleiras, ainda faltava o elemento mais importante: os leitores. Como fazer a comunidade descobrir a biblioteca? As crianças ficavam nas ruas por falta de vagas nas escolas e Kauanna passou a sair para encontrar as crianças da vila, conversar com elas e tentar convencê-las a conhecer a biblioteca. Elas faziam um trenzinho e seguiam para o lugar. Lá praticavam atividades recreativas de pintura e desenho com livros e revistas de atividades para colorir. A partir desse esforço inicial as crianças começaram a frequentar a biblioteca. 

Kauanna aprendeu a contornar as adversidades e enfrentar alguns problemas que surgiram com criatividade, boa vontade e obstinação. Um menino que já estava quase sendo absorvido pelo mundo das drogas e da marginalidade teve a chance de obter novas perspectivas na vida, quando ela começou a chamá-lo para a biblioteca. Ele tinha vergonha de entrar na biblioteca por não saber ler, mas ela teve a paciência e a dedicação em ajudá-lo. Agora ele além de ter aprendido a ler, é um dos adolescentes que mais frequentam a biblioteca.

Passagens Literárias



O projeto Passagens Literárias é mais uma das iniciativas que têm como objetivo democratizar o acesso aos livros. O projeto que acontece toda as sextas-feiras na Rodoferroviária de Curitiba empresta livros de literatura para os passageiros que aguardam os ônibus. A leitura faz com que o tempo ocioso da espera seja melhor ocupado. Enquanto aguardam o embarque, a Priscila Angélica Sehnem, criadora do Passagens Literárias, faz contação de histórias e apresenta os livros aos passageiros. Alguns têm vergonha de pegar, outros querem levar para casa. O empréstimo acontece enquanto as pessoas estão aguardando o embarque, assim que o ônibus chega, os livros são recolhidos. É um trabalho de sensibilização para a leitura.

O projeto foi aprovado em um edital do Ministério da Cultura, virou ponto de cultura, e junto com a Fundação Sidônio Muralha é realizado desde 2009. O Passagens Literárias começou com uma pequena caixa e uma cesta de vime com alguns exemplares que eram emprestados aos passageiros, mas o projeto cresceu, e atualmente tem uma bela estante colorida com rodinhas, que circula de ponta a ponta pela rodoviária emprestando os livros. Logo percebemos a importância de um projeto literário em um espaço público com grande circulação de pessoas como a Rodoferroviária de Curitiba. Algumas pessoas ficam o dia inteiro passando o tempo na rodoviária, aguardando a hora de viajar. É gente do Brasil inteiro que vem tratar a saúde, fazer negócios, procurar emprego ou visitar a família.

A mediação da leitura combinada com a contação de histórias feita pela Priscila, seu esposo Cláudio e os mediadores de leitura voluntários formados pela Fundação Sidônio Muralha, permitem que a rodoviária ofereça momentos de lazer, leitura e cultura para os passageiros, pessoas que por diversos motivos, não têm tempo de se locomover até uma biblioteca, fazer uma carteirinha e frequentá-la em suas cidades de origem, ou até mesmo em Curitiba. Ou não tem dinheiro para comprar os livros.  

O projeto permite a humanização do espaço urbano da Rodoferroviária de Curitiba, um local tão decadente, pouco confortável, inseguro e insalubre, que está passando por um longo período de reformas por causa da Copa do Mundo de 2014. É um alívio para aqueles que precisam frequentá-la, encontrar ali uma pessoa disposta a contar uma história, oferecer um livro por alguns momentos, e diminuir assim o impacto do cansaço de passar horas esperando por seus ônibus. O projeto Passagens Literárias também possibilita que pessoas que jamais cogitaram entrar em uma biblioteca devido as adversidades de suas vidas, possam naquele momento apreciar o que um livro pode lhes oferecer. A Priscila convida a todos para conhecer e participar do projeto na rodoviária de Curitiba. Em 2012 nós fizemos o curso de Mediadores de Leitura na Fundação Sidônio Muralha, você pode ler mais sobre esse assunto no blog da Biblioteca Comunitária Sítio Vanessa.

Bibliotecas do Brasil



Começamos nossa fala contando sobre a Biblioteca Comunitária Sítio Vanessa, criada em 2011, e a parceria com o Edemilson Pereira, dono do sítio, que tornou possível montarmos um acervo com quase 2000 livros e 70 usuários em sua casa. Contamos sobre os eventos que realizamos semestralmente com as crianças das duas escolas rurais da Estrada do Anhaia e a importância de levar livros, conversar sobre leitura e empréstimo livre com elas. Contamos do passeio que fizemos, o primeiro evento feito pela biblioteca, onde realizamos uma aula de educação ambiental e da participação das professoras da Escola Rural de Anhaia e de Rodeio, que tornaram possível a realização de nossas atividades. Contamos que a partir do blog da Biblioteca do Sítio, muitas pessoas começaram a nos procurar, contando de suas próprias iniciativas de incentivo à leitura e de bibliotecas comunitárias que estavam montando. Pediam dicas e orientações sobre os mais diversos temas que envolvem as bibliotecas comunitárias, ou simplesmente escreviam para trocar experiências. Começamos a divulgar essas iniciativas no blog da Biblioteca do Sítio, mas aí, percebemos que já era a hora de criarmos um espaço próprio, para que pudéssemos dar voz aos projetos que começaram a nos procurar, e mostrar seu trabalho junto às comunidades. Assim nasceu o blog Bibliotecas do Brasil, um espaço para reunir iniciativas independes e atuantes, que se preocupam em tornar os livros e as leituras acessíveis para os mais diversos públicos, em várias regiões do Brasil e até do mundo.




Falamos da importância de as bibliotecas e projetos de incentivo à leitura usarem as redes sociais e a internet como ferramentas para a divulgação de seus trabalhos, e como veículo de aproximação com os leitores. Sobre como o exemplo da doação, voluntariado e ajuda desinteressada ao próximo é contagiante, e que ao publicar tais atitudes nas redes sociais está se dando voz a todos aqueles que acreditam que é possível alterar a realidade com o esforço pessoal e o auxílio de outros. Com esta divulgação de ações de incentivo à leitura e bibliotecas comunitárias conseguimos quebrar aquele estereótipo de que o brasileiro não é um povo solidário e que a leitura é algo para poucos. Divulgue seu projeto, dê uma cara e uma voz para ele, pois não só divulgará suas atividades como proporcionará para pessoas em dúvida um empurrão para elas também tomarem atitude parecidas.

Mais projetos:
Conseguimos falar de vários projetos que conhecemos durante esse primeiro ano de blog, e de alguns que conhecemos antes de criarmos a Biblioteca do Sítio. Falamos do Alessandro Martins, editor do blog Livros e Afins, pioneiro das bibliotecas livres em Curitiba, e como a Biblioteca Pote de Mel nos inspirou para começar a Biblioteca do Sítio Vanessa. Falamos do Projeto Mãos Amigas da Sandra Alvarenga, que assim como a Contação da Rua em João Pessoa, já protagonizaram reportagens na TV e matérias nas grandes mídias.
Falamos da Biblioteca Amigo Livro da Silvia Buchalla de Guaratuba, e das doações de livros que ela nos fez, encaminhados para o projeto Feira Livro Miaul que acontece na feira de produtos orgânicos Matinfeira em Matinhos, coordenado pela Angélica Love e Elisiani Tiepolo.
Comentamos que é importante que os projetos de incentivo à leitura e bibliotecas comunitárias se apoiem, se adotem e cresçam juntos, sem individualismo, pois há espaço para todos, dessa forma conseguindo uma maior visibilidade. Nisso lembramos do exemplo do GMÃO - Grupo de Mãos em Ação da Leticia Fontoura e da Ana Cruz de Gravataí no Rio Grande do Sul. A Leticia fez a doação de um projetor para a Ciranda do Amanhecer de Tabuleiro do Norte, no sertão do Ceará, da Isabel Macêdo. Elas se conheceram através do blog Bibliotecas do Brasil, se identificaram e estão se ajudando. É bonito demais saber que através do blog foi possível ligar pessoas de cantos tão distantes um do outro e para onde vamos levamos conosco todos os outros projetos que admiramos e divulgamos.

  • Lembrete: No dia 26/09/2013 participaremos da 16ª Feira do Livro de Araucária e do 1º Festival Literário da cidade. Conversaremos sobre bibliotecas livres e a importância de se ter bibliotecas acessíveis e atuantes nas comunidades. Mais informações nesse post.

Leia mais:
Imagem do livro: http://goo.gl/Kqg19N

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