Sábado sem biblioteca

1.9.13

Casa da Leitura Nair de Macedo no bairro Guabirotuba fechada aos sábados.


O sábado à tarde em Curitiba para quem mora distante do Centro e longe das atrações culturais, deixa muito a desejar pela falta de opções. Fugir de uma área assolada pela guerra sonora dos volumes altíssimos de carros tunados para dentro de uma das bibliotecas da região seria ideal. Aliás, seria um alívio. Ter ali um pouco mais próximas de casa atividades culturais aos sábados, um bom acervo de livros, além de acesso à internet seria muito valoroso. As bibliotecas dos bairros deveriam servir como refúgios culturais nessas tardes e existem três bibliotecas que poderiam fazer esse papel nos finais de semana por aqui: a Casa da Leitura Nair de Macedo no Guabirotuba, a Casa da Leitura Wilson Martins do Terminal do Carmo no Boqueirão, e a Casa da Leitura Hilda Hilst no Jardim das Américas. Gostaríamos de celebrar a existência dessas bibliotecas como uma opção à todas que ficam mais distantes, e que além de livros houvesse atividades culturais e um horário amigável no final de semana, mas aos sábados e domingos todas ficam de portas fechadas.

Leitura na praça de O Povo Brasileiro, em frente à biblioteca fechada.
Durante a semana o funcionário de uma dessas bibliotecas nos contou que os livros do acervo estão sendo enviados para as Casas de Leitura mais novas, e o motivo é o movimento de visitantes e leitores que caiu muito nos últimos tempos. Por que será que as pessoas estão deixando de frequentar as já tão escassas bibliotecas dos bairros mais afastados do Centro de Curitiba? Pode ser falta de divulgação das atividades das bibliotecas ou de programação que atraia as pessoas da comunidade.

Biografia do van Gogh, leitura das próximas semanas.
Em um Farol do Saber que visitamos a atendente nos disse que o local é uma biblioteca aberta à comunidade, apesar da maioria dos livros ser dedicada para pesquisas escolares, as enciclopédias e livros didáticos são bastante procurados pelos alunos de uma escola próxima. Não há muita opção de livros de literatura para jovens e adultos, os livros são bem antigos, e segundo a atendente, o Farol do Saber não recebe livros novos há algum tempo. O horário de atendimento da biblioteca acompanha o calendário escolar, ou seja, durante as férias o Farol não abre para a comunidade, nem para os alunos, perdendo totalmente sua função. Não há atendimento aos demais leitores e não existem atividades recreativas ou colônia de férias nesse período. Apesar de a atendente ter explicado como é feita a carteirinha, ficou bem evidente que a biblioteca é voltada para a escola municipal da região e se quiséssemos ler algo interessante, não era ali que iríamos encontrar.
Os Faróis do Saber foram criados para serem bibliotecas públicas nos bairros de Curitiba, mas eles acabam servindo como bibliotecas escolares e o que evidencia ainda mais este problema é que as escolas já têm as suas próprias bibliotecas. Fechados nas férias e nos finais de semana, os Faróis perdem sua função social, de serem locais onde a cultura está ao alcance das pessoas que moram ou trabalham em locais próximos destas bibliotecas.

As bibliotecas precisam estar presentes na vida dos moradores de um bairro. É importante trazer para as oficinas de leitura e atividades desses locais, pessoas que sejam de fora do mundo das bibliotecas, atrair quem não tem o hábito de frequentar espaços culturais, melhorando dessa maneira a influência das Casas de Leitura sobre os moradores das regiões atendidas por elas. As bibliotecas precisam acompanhar as demandas, saber gerenciar conflitos e ter um bom senso coletivo, mas o que acaba acontecendo é que muitas bibliotecas ficam estagnadas e não vão até o público, que acaba desistindo delas.

Leitura fora da biblioteca.
É importante que as bibliotecas se abram para apoiadores, parcerias, convênios e facilitem o acesso dos leitores, tanto na questão do horário mais amigável com quem trabalha durante toda a semana e só tem o fim de semana para visitá-las. Tornar-se um local acessível para pessoas com necessidades especiais, para os que chegam de bicicleta, de carro ou de ônibus, com opções de banheiros, estacionamentos conveniados, acessibilidade e horários aprazíveis. As bibliotecas dos bairros deveriam ser vistas como lugares ótimos para encontros com escritores, lançamento de livros, exposições, palestras educativas, cineclubes, e bate-papo literários. Deveriam ser a opção cultural de quem mora afastado do centro, um meio termo entre o bairro e o centro, e serem benéficas para estudantes, professores, concurseiros e leitores.

Na pracinha não tem nenhum banco ou mesinha de concreto, iguais as que tem no pátio da Casa de Leitura, que também fica fechado nos finais de semana.


Quando muitas pessoas começam a não achar mais uma biblioteca interessante e começam a abandoná-la, é importante que haja uma reação por parte dos administradores e funcionários responsáveis por esses ambientes. O abandono significa que as bibliotecas deveriam estar mais presentes no dia a dia das pessoas e das comunidades, e não estão oferecendo atividades que despertem o interesse delas. Estes locais precisam ser vistos, os leitores precisam ser incentivados à voltar, a querer conhecer o acervo e ter sempre novidades interessantes que despertem a curiosidade. Quando a biblioteca é boa, tem uma programação de qualidade e o leitor é bem atendido, ele sempre volta e a biblioteca não cai no esquecimento.

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Daniele Carneiro
contato@bibliotecasdobrasil.com

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