Todas as bibliotecas filiais da Jefferson-Madison Regional Library (JMRLIB), biblioteca pública de Charlottesville no estado da Virgínia (EUA), abriram na segunda-feira pela manhã no dia 14 de agosto de 2017. Foi uma decisão difícil mas necessária após um final de semana repleto de violência e manifestações de ódio causadas por supremacistas brancos de todos os cantos do país que culminou no ataque terrorista que matou a ativista Heather Heyer de 32 anos, e feriu 19 pessoas no sábado (12/08). As bibliotecas entenderam que nesse momento de luto e de completa indignação por causa dos acontecimentos, era o seu dever apoiar a comunidade. A Biblioteca Central da JMRLibrary deu as boas vindas às pessoas com essa placa: "Bibliotecas são para todos". Bibliotecas resilientes combatem o ódio e são pilares fundamentais para suas comunidades. É importante que não fechem as portas em momentos críticos.
A ALA - Associação Americana de Bibliotecas, a mais antiga e maior associação de bibliotecas do mundo, divulgou uma nota em seu site lamentando e condenando o ataque terrorista supremacista branco.
"A ALA expressa nossas mais profundas condolências às famílias e amigos dos falecidos e feridos durante os protestos deste fim de semana em Charlottesville, Virgínia. Não esqueceremos seus esforços para esclarecer e salvaguardar suas comunidades do fanatismo, ao mesmo tempo em que se opõem à violência racista, anti-imigrante, anti-LGBTQ e anti-semita. Nós somos solidários com o povo da Virgínia, bem como qualquer pessoa que protesta contra o ódio e luta pela equidade, diversidade e inclusão.
As ações e mensagens vis e racistas dos grupos supremacistas brancos e neonazistas em Charlottesville estão em forte oposição aos valores fundamentais da ALA. Independentemente do local ou da circunstância, condenamos qualquer forma de intimidação ou discriminação baseada na cultura, etnia, gênero, nacionalidade, raça, religião ou orientação sexual. Nossas diferenças devem ser celebradas, e o respeito mútuo e o entendimento devem servir como normas dentro da nossa sociedade.
A ALA apoia as vozes de esperança, pois tais ações refletem os esforços da comunidade bibliotecária para abolir o fanatismo e a invisibilidade cultural. Como afirmamos recentemente , ‘devemos continuar a apoiar a criação de uma sociedade mais equitativa, diversificada e inclusiva’, e faremos isso através do trabalho de nossos membros e através de recursos como o programa Bibliotecas Respondem".
Manifestações anti-ódio e encontros de emergência em solidariedade à Charlottesville foram organizados por todos os Estados Unidos, para resistir às ações dos supremacistas brancos. As fotos a seguir são de uma manifestação organizada por uma biblioteca pública no estado de New Jersey.
Imagens da manifestação organizada pela Bedminster Public Library de New Jersey, no dia 13/08 - Foto: Ed Murray
Funcionárias e funcionários da Bedminster Public Library junto com a comunidade organizaram uma manifestação contra o atual presidente dos Estados Unidos, e demonstram solidariedade à cidade de Charlottesville, diante do final de semana de violência e intolerância. Foto: Ed Murray
Foto: Ed Murray
Na sequência dos eventos e da violência trágica durante o fim de semana de 12 de agosto, a JMRLib decidiu organizar Programas Pop Up na Biblioteca Central de Charlottesville, para criar espaço para a comunidade se unir e facilitar o debate e a cura, na esperança de que a comunidade possa começar a avançar unida. Todos os programas são gratuitos e não requerem registro, e são divulgados para a comunidade através das redes sociais da biblioteca, como o seus perfis no Facebook, Instagram e Twitter.
Além dos programas de outono já agendados previamente pela biblioteca, como a Semana de Boas Vindas que ocorre em todas as filiais das bibliotecas de Charlottesville por causa da volta às aulas, também tem a Semana do Orgulho LGBTQ+, e uma leitura da Declaração dos Direitos Humanos da ONU, a Biblioteca Central acolhe eventos pop-up nos próximos dias e semanas para ajudar na recuperação e cura da comunidade, e ajudar as pessoas a seguirem em frente unidas.
A biblioteca também convida sua comunidade leitora para ler sobre diversidade, unidade e comunidade, além de disponibilizar títulos que destacam a igualdade e incentivam a compreensão, tolerância e integração.
Jazz nos degraus
Estão programados pequenos shows de jazz com o estilo de New Orleans, com uma banda de 4 musicistas para que eles possam gerar alguma energia positiva para levar embora toda a onda de ódio e violência aos quais as pessoas foram expostas nos últimos dias.
Bob Bennetta & Friends levaram boas vibrações à Biblioteca Central de Charlottesville. Foto: Instagram JMRLIB
Mural Comunitário
A Biblioteca Central de Charlottesville montou um expositor pedindo para que as pessoas da comunidade leitora respondam a seguinte pergunta: O que nos faz mais fortes? A equipe da biblioteca deixou acessível um mural de cartolina, canetas e palitos de sorvete para que as pessoas escrevam e colem suas respostas no mural comunitário da instituição. Foto: Instagram JMRLIB
Fotos: Instagram JMRLIB
Atividades de colorir
Durante todo o dia, enquanto os materiais de colorir estiverem disponíveis, a biblioteca convida as pessoas para praticar mindfulness (atenção plena) com a atividade calmante de colorir. As folhas e lápis de colorir serão fornecidos pela biblioteca.
Empréstimo de Ebooks
Uma coleção de ebooks para que a comunidade leitora possa encontrar unidade, promover a igualdade e encontrar entendimento foi disponibilizada online pela biblioteca para empréstimos. Com livros sobre a história de Charlottesville, livros de meditação para inspirar boas sensações e aliviar o peso dos dias massacrantes de exposição à violência, livros sobre política, direitos civis, inclusão, liberdade, não-violência, biografias de grandes personalidades como Desmond Tutu, livros sobre politicamente correto, sobre bullying, sobre LGBT, igualdade, e uma variedade enorme de livros de literatura, contos e poesia relacionados aos temas atuais e livros de História e jornalismo. O livro Entre o Mundo e Eu de Ta-Nehisi Coates e O Ódio que Você Semeia de Angie Thomas estão entre a seleção de ebooks da biblioteca, para que as pessoas possam saber mais sobre a história e que possam se equipar contra atos, discursos e demonstrações de ódio.
Terapia e Meditação
A JMRL fez uma parceria para oferecer aconselhamento em resposta aos eventos de 12 de agosto. A comunidade leitora terá vários horários disponíveis na Biblioteca Central nos próximos dias para falar com um terapeuta profissional. Uma oficina de meditação falará sobre a jornada de encontrar uma paz duradoura, felicidade e uma maior sensação de bem-estar, e uma técnica simples de meditação será demonstrada para as pessoas que participarem.
Organização comunitária
Uma conversa comunitária foi realizada no dia 14/08 no Jefferson School African American Heritage Centre para discutir os rumos da comunidade unida após a manifestação e crimes de ódio em Charlottesville. Foto de Andy Copeland-Whitsett. O auditório ficou lotado como mostra a foto abaixo.
Bibliotecas Mudam o Mundo
É crescente e relevante o número de bibliotecas mundiais que estão mais cientes e comprometidas com suas comunidades leitoras e em aprofundar seu papel como espaços de refúgio contra o ódio, de se consolidar como locais seguros para todas as pessoas, e que se levantam em defesa da diversidade. O momento em que estamos vivendo está exigindo mais ações das bibliotecas e instituições culturais para ampliar suas vozes no combate ao ódio. As bibliotecas estão cada vez mais se afirmando como locais atuantes ao apoiar uma sociedade democrática, que inclui o acesso livre, aberto e igualitário à diversidade de informações e ideias produzidas pela humanidade, que se afirmam incentivadoras do engajamento cívico, da liberdade intelectual e liberdade de expressão. A liberdade de expressão jamais deve ser interpretada como tolerância ou oportunidade para que os discursos de ódio ocorram.
Um dos objetivos do livro Bibliotecas Mudam o Mundo, lançado em 2016 pela Magnolia Cartonera, é trazer ao conhecimento de nossas leitoras e leitores as ações que essas bibliotecas estão promovendo em nome da aceitação e da tolerância. Além desse texto, em diversas outras passagens do novo livro da Magnolia Cartonera, partilhamos exemplos de bibliotecas resilientes que se levantam contra a intolerância, e se transformam em locais seguros e de oposição à uma sociedade que normaliza e aceita preconceitos, atos e discursos de ódio.
Um dos objetivos do livro Bibliotecas Mudam o Mundo, lançado em 2016 pela Magnolia Cartonera, é trazer ao conhecimento de nossas leitoras e leitores as ações que essas bibliotecas estão promovendo em nome da aceitação e da tolerância. Além desse texto, em diversas outras passagens do novo livro da Magnolia Cartonera, partilhamos exemplos de bibliotecas resilientes que se levantam contra a intolerância, e se transformam em locais seguros e de oposição à uma sociedade que normaliza e aceita preconceitos, atos e discursos de ódio.
Bibliotecas Contra o Ódio faz parte de uma nova iniciativa que colocamos em prática no blog Bibliotecas do Brasil, e que já está presente no livro Bibliotecas Mudam o Mundo da Magnolia Cartonera. Essa é uma iniciativa para propagar, ampliar as vozes e tornar conhecidas as ações, programações e atividades realizadas por espaços de leitura, bibliotecas, escolas, universidades, professoras e professores, grupos voluntários, pessoas anônimas e comunidades, que são voltadas para educar rumo à aceitação e tolerância, para a cura da comunidade leitora, que estão focadas em promover espaços seguros ao incentivo à diversidade, no combate ao ódio, na luta pela diversidade e contra os preconceitos, como a homofobia, o machismo, o racismo, a transfobia, a xenofobia, e contra todos os atos violentos e discursos que incitam o ódio e a intolerância.
Para ler mais sobre bibliotecas, espaços de leitura e pessoas resilientes:
- Bibliotecas Contra o Ódio - uma reflexão sobre o papel das bibliotecas em nossa época
- Como uma minibiblioteca pode combater o ódio
- Bibliotecas resilientes servem de apoio e refúgio após eleição de Donald Trump
- Ações contra o ódio: ativista grafita corações sobre suásticas em Berlim
- Meryl Streep contra o ódio
Pesquisa, tradução e matéria: Daniele Carneiro - Bibliotecas do Brasil | Magnolia Cartonera
Fotos com créditos dos sites de origem em cada uma delas
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