kmuflados resgata e compartilha as histórias de vida dos moradores de rua

8.5.14


Na semana passada ficamos sabendo de uma iniciativa louvável aqui de Curitiba que merece todo o nosso conhecimento, carinho e divulgação. A Leticia Fontoura do G-MÃO - Grupo de Mãos em Ação (conhecido de longa data dos leitores do blog Bibliotecas do Brasil) nos passou uma matéria sobre os kmuflados. O vídeo que assistimos e compartilhamos várias vezes no Facebook do Bibliotecas do Brasil ao longo da semana, é um relato da vida do Ronaldo Chaime Macedo, morador de rua e catador de material reciclável que mora embaixo de uma ponte da Linha Verde, uma rodovia que atravessa a cidade de Curitiba.

Assista o vídeo:



O kmuflados é um projeto social sem fins lucrativos que visa tirar os moradores de rua do anonimato e da invisibilidade. O grupo quer resgatar e compartilhar suas histórias e mudar algo para melhor na vida dessas pessoas.

Eduardo França contou que os cachorrinhos de estimação são a família do Ronaldo.

Nas palavras dos idealizadores do projeto, estes são seus objetivos principais:

  • Sensibilizar a consciência social sobre a condição humana dos moradores de rua ao tornar suas histórias conhecidas, por meio de curtas metragens exibidos no blog e em redes sociais. Através disso, buscar promover alguma reflexão nos espectadores a respeito de seus próprios posicionamentos diante dos moradores de rua;
  • Aliado às iniciativas de sensibilização buscar organizar meios de auxiliar os moradores de rua  a sair da situação em que se encontram, buscando a sua reinserção social. Queremos ajudá-los a começar uma nova vida, com todo o suporte necessário. Direcionados por estes objetivos eles buscam uma interação com o público que se interesse pela causa e tenha a intenção de ajudar essas pessoas junto aos kmuflados!


Para Eduardo França Xavier, idealizador dos kmuflados é importante conhecermos a história de vida dos moradores de rua, "porque cada história é única, temos que valorizar toda e qualquer história de vida, além do que cada história nos passa uma mensagem, as dificuldades, o sofrimento, tudo traz um aprendizado. Resgatar estas histórias ajuda a resgatar os moradores de rua como pessoas perante a sociedade e perante a eles mesmos, porque até eles muitas vezes esquecem das suas próprias histórias". 



A preocupação com as pessoas que sofrem as adversidades de morar na rua surgiu espontaneamente, como contou Eduardo: "No ano passado eu ia trabalhar de bicicleta até o Centro, no trajeto comecei a reparar na grande quantidade de moradores de rua e fiquei indignado com a condição de vida que eles levam e ao mesmo tempo tanta gente passando por eles como se eles não existissem. Pensei que unindo forças podemos ajudá-los, foi assim que nasceu a semente da ideia do projeto, tive a ideia de fazer um vídeo contando suas historias e divulgando nas redes sociais, pensando em ajudá-los de alguma forma e também conscientizar as pessoas sobre como eles também são seres humanos, com emoções, sentimentos e uma história de vida". 


Desde que os kmufados começaram o projeto, eles perceberam a noção que o curitibano tem dos moradores de rua e catadores de material reciclável: "As pessoas têm medo, ou até mesmo vergonha quando cruzam um na rua, tendem a ignorar o morador de rua.  Mas ao mesmo tempo muitos que estão acompanhando o nosso projeto tem grande interesse em ajudar. Acreditamos que o kmuflados ajuda a gerar essa consciência coletiva de ajudar os moradores de rua e de que eles são pessoas como nós, que chegaram ali por algum erro em sua história, mas atire a primeira pedra aquele que nunca errou".


A visão que a maioria das pessoas têm dos moradores de rua e catadores de material reciclável é equivocada - geralmente as pessoas acham que um morador de rua é “vagabundo”, “drogado”, “nóia”, “desocupado”, “vida boa”, “pichador”, “bandido”, etc. Mas a realidade nas ruas é bem diferente, e a vida dos moradores de rua se dividem através de vários primas. Muitos trabalham de sol à sol, não usam drogas, têm família para sustentar e não são criminosos.
Para Eduardo, "cada pessoa é única, cada um que está na rua tem uma história, muitos vão parar lá na rua por problemas familiares ou drogas. É muito fácil julgar as pessoas, seus erros. O difícil é sair da zona de conforto e botar algum tipo de ajuda em prática, sem julgamentos, ajudar apenas por amor.  Pensamos que não devem se dar 'rótulos' a essas pessoas, cada um é único, e estamos aprendendo isso com o kmuflados".
Ainda falta para muitas pessoas travar um contato maior com as realidades da periferia e procurar conhecer a vida dos moradores de rua: "É uma realidade que muitos não se interessam, mas está bem na frente de todo mundo. Se mais pessoas tivessem o interesse em contribuir com essas realidades teríamos uma cidade melhor". 



O projeto kmuflados tem sido bem sucedido até agora e o Eduardo nos contou algumas das experiências positivas que eles têm vivido. "Creio que atingimos com sucesso dois pontos: O primeiro é conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre a condição de moradores de rua e suas histórias. Quem conhece o projeto gosta muito, fica surpreso, se sensibiliza com a história, tem vontade de ajudar. E o segundo ponto é que o Ronaldo, nossa primeira história, melhorou muito como pessoa depois que o conhecemos, tem mais ânimo, está mais alegre e tem novas forças para tentar se reerguer. Nós até conseguimos um emprego para o Ronaldo, mas infelizmente ele ainda não pode iniciar porque precisa de uma casa para morar, por causa dos cachorros que ele não larga por nada. Aí estamos com essa dificuldade"


Eduardo nos explicou como é a vida do Ronaldo embaixo da ponte: "Ele não toma banho com frequência, pede água no posto de gasolina às vezes para se lavar, lavar roupas, mas é meio complicado porque ele tem essa dependência. Ele cozinha ali embaixo da ponte mesmo, faz fogo, tem panelas e prepara o alimento ali. Ele tem um colchão ali onde ele dorme, junto com seus 2 pinschers, o resto dos cachorros dorme fora da cama. O Ronaldo recebe doações de ração para alimentar os cachorros. Ele tem o primeiro grau incompleto e creio que ele estudaria sim se tivesse oportunidade. O Ronaldo não tem o hábito da leitura e tem dificuldade para isso por estar tanto tempo sem ler, mas ele sabe ler. Ele não tem acesso à nenhuma biblioteca. O Ronaldo tem medo de sofrer violência por morar embaixo da ponte, inclusive ele já nos disse que recebeu ameaças e teme pela sua segurança. Faz 8 meses que ele mora lá".


Esse é o instrumento de trabalho do Ronaldo

Sobre os abrigos públicos de Curitiba nos quais os moradores de rua podem passar a noite, Eduardo afirma: "O abrigo colabora com a vida do morador de rua, pois a pessoa dorme em um lugar seguro, pode tomar um banho, descansar tranquilamente e sair da rua onde pode ter drogas, etc. Com certeza colabora mas não é tudo, é preciso um acompanhamento mais completo para que haja uma reinserção social".
O idealizador dos kmuflados disse ao blog Bibliotecas do Brasil que acredita que faltam propostas alternativas de atendimento que visem o segmento dos moradores de rua: "Creio que poderiam ser criados alguns projetos diferentes em abordagem, porque muitos moradores de rua não aceitam o atendimento da forma como é feito... Mas tem que ser algo bem pensado e estruturado, com uma grande pesquisa validando". 

Procura-se casa para alugar direto com o proprietário

No momento os kmuflados estão arrecadando todo tipo de ajuda para o Ronaldo como roupas, agasalhos, alimentos, ração para os cachorrinhos, remédios, produtos de necessidade básica ou qualquer outro tipo de recurso para ele ou para outros moradores de rua que o projeto auxilia. Mas a urgência mesmo é em arranjar um aluguel para o Ronaldo, conforme está explicado no cartaz abaixo. Curta o kmuflados no Facebook e acompanhe as novidades no blog. Você também pode participar diretamente colaborando com doações ou indicando uma casa para o Ronaldo alugar.




Quem são os organizadores dos kmuflados


Eduardo França Xavier, 25 anos, Administrador. Idealizador e Coordenador do Projeto (além da filmagem, edição e redes sociais).

Vanessa Guimarães de Miranda, 25 anos, Arquiteta. Suporte operacional, redes sociais e áudio.
Julia Sabbag, 24 anos, Arquiteta. Suporte operacional e contato com voluntários e colaboradores.
Joana Sabbag, 18 anos, estudante Jornalismo. Suporte operacional e "radar de notícias" de moradores de rua.
Shalise Basso, 24 anos, Arquiteta.  Suporte operacional e fotografia.
Rafael Oliveira Ribeiro, 25 anos. Designer e Diretor de arte e Design/Marca.
Rodrigo Janz, 25 anos. Motion Designer, responsável pelas animações nos vídeos.
Igor Storck, 25 anos. Psicólogo, faz o atendimento psicológico e interlocução com os moradores de rua.

Leia mais:



Daniele Carneiro - Biblioteca do Brasil
contato@bibliotecasdobrasil.com
Fotos: kmuflados

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